sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O Cavaleiro das Trevas


Comentários gerais sobre o filme:

Pra começar, esse filme é propaganda enganosa. Não tem nada de ser "O Cavaleiro das Trevas", a história do Frank Miller escrita nos anos 80.

Ok, o original é "The Dark Knight Returns", mas mesmo assim... pilantragem. Steve Gerber, falecido esse ano aliás, já ensaiava essa desconstrução dos super heróis (aí, adoro essa palavra gente!) desde os anos 70, na verdade. Se você for mais elástico, no mundo dos quadrinhos mainstream, o filho do Duende Verde se tornando drogueiro/ganguista no Homem Aranha do final dos anos 60 já é relativamente barra pesada e "adulto", ao menos ensaia ir nesse sentido.

E isso são quarenta anos atrás.

Não acho que o filme tenha exagerado nessa coisa de ser "realista". Não foi um Asilo Arkhan, aí sim um tratado sobre a psique de personagens, ou o Piada Mortal, ou o Cavaleiro das Tevas (HQ) que é sobre memórias do Wayne, nóias, envelhecer, cheio de Flashbacks, voice overs, e enfim, reflexões sobre a identidade dele e sobre seu passado, sobre como esse o moldou, sobre tempo perdido, sobre se sentir fora de tempo e de lugar e ter construído uma identidade assim.

Não acho que explorou nada de profundamente psicológico dos personagens. O Coringa faz uns discursos-chave empolgantes e pontuais sobre caos que fazem a molecada falar "ai meu deus, como ele versa bem sobre o caos, nossa, me senti questionada gente! Chocou! Aí que louco, essa coisa né? O mundo é super caótico mesmo né turminha? Uma coisa assim imprevisível, sei lá, achei super louco! Vou até comentar com afêssora de psicologia na aula de quarta!" mas não se aprofunda nada nos aspectos psicológicos pessoais dos personagens.

Nem achei que o Wayne é muito explorado nesse sentido. Talvez o Harvey Dent... Mas achei a conversão dele para o lado negro relativamente simplista. Aceitável, ok, funciona, mas não é uma exploração psicológica da perda que leva ao comportamento anti social/desilusão/niilismo.

Não diria que o filme é simplório. Eu acho que ele simplesmente desconsidera qualquer discussão psicológica "realista" mais profunda e trata-se sim de cenas de acão com cliffhangers no final que te levam para outra, e para outra, e para outra, com quaisquer motivações como pano de fundo bem, bem em segundo plano. A cena da barca por exemplo tem um ponto de virada de expectativas legal, com o personagem fazendo o inesperado. Mas eu sequer LEMBRO por que eles estão nos barcos em primeiro lugar! 

Como eu disse, o que temos de mais desenvolvido sobre isso é o Coringa. Mas na minha percepção o que ele faz de mais sofisticado é um discurso curto, pontual, sintético, bem articulado e inteligente para impressionar o público médio, sobre a natureza devoradora do caos que todo mundo quer negar - bu! - o que pra mim é apenas um ensaio, uma introdução a uma maneira de ver o mundo que conta muito menos do que a verdadeira preocupação do filme, que é fazer um caminhão virar de ponta cabeça de forma gloriosa. 

Esse tipo e idéia impressiona o espectador médio que acha o que o Coringa disse super rebelde, chocrível, revelador. Honestamente houve momentos nos quais eu pensava "POR QUE essas pessoas todas estão brigando? Why can't we be friends? Eu nem LEMBRO por que começou essa sequência de ação". 

História, personagens e suas razões, de ser, viver e querer totalmente em segundo plano.

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