quinta-feira, 10 de maio de 2007

Cidade de Deus




“Cidade de Deus” surpreende não pelo tópico que aborda, mas pela maneira como o faz. A História é bem amarrada e bem contada, através de flashbacks e quebras na narrativa que se justificam e se encaixam muito bem no final.

O filme é construído de forma cuidadosamente encaixada através de várias digressões, elípses e pequenos flashbacks internos. A narrativa faz com que o espectador acredite poder prever o que irá acontecer, em vários momentos, mas essa previsão não se cumpre.

A história começa nos anos 60, passa pelos 70 e vai até os 80, com reconstituição de época muito bem feita. Figurinos, cenários, objetos de cena, cortes de cabelo, música, carros; tudo bem cuidado. A fotografia é contemporânea, fazendo uso de recursos modernos de edição e efeitos. com movimentos de câmera ousados, câmera lenta, acelerada, e planos irregulares. A edição é composta por cortes rápidos e entrecortados.

Uma seqüencia de estupro é particularmente interessante. A violência em si quase não é mostrada. Nesta cena o filme trabalha apenas com som, imagens fragmentadas e fora de foco, e total escuridão e silêncio. Som e imagem vão e vem em quebras, entre incomodos e duradouros segundos de tela preta. As tomadas de escuridão e surdez indicam os desmaios e a desorientação da personagem. Uma seqüência absolutamente impressionante e criativa, o filme faz uso dos sentidos para incorporar o público a ação.

Em suma, “Cidade de Deus” é um excelente filme. Conta uma história muito bem amarrada, com dramaturgia em destaque, um roteiro sólido e é, técnicamente, impecável. Muitos tem atacado o filme justamente por essa razão, o que soa incongruente e paradoxal.

Deveria o filme ter fotografia e recursos de edição mal acabadados para que fosse bom? Acredito que não. De qualquer maneira ele cumpre seu objetivo, de passar sua história de uma determinada maneira. Ele é convincente e extremamente impactante. Não acredito que exista uma maneira de sair do cinema ileso após assistir a esse filme. Bem ou mal, ele exige uma reação.

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