terça-feira, 24 de abril de 2007

Os quatro do apocalipse


Foi lançado em DVD de banca, e agora se encontra por dez reais em lojas do centro de São Paulo, o western spaghetti "Os quatro do apocalipse" (I Quattro dell'apocalisse, 1975) Trata-se de um western interessante e atípico, em vários sentidos, feito pelo cineasta de filmes de horror gore splatter pegajosos Lucio Fulci.

No oeste, na segunda metade do século XIX, o jogador malandro Stubby, interpretado por Mario Testi, que antes já havia feito o excelente "Era uma vez no oeste" chega em uma pequena cidadezinha com seu deck de cartas marcadas. Imedia
tamente é preso e colocado na cadeia com uma prostituta (Lynne Frederick) um bêbado alcoolatra compulsivo (Michael J Pollard) e um negro mentalmente perturbado (mas de bom coração) que fala com os mortos (Harry Baird).

Do lado de fora da cadeia acontece um massacre, comandado por grupos de bandidos locais e ignorado/opoiado, indiretamente, pelo xerife, que janta calmamente enquanto pessoas são assassinadas em cenas de sangueira típica do Bava. Os quatro são libertos depois do massacre, pegam uma carroça e fogem pelo deserto, procurando uma cidade próxima. E aí surgem problemas.

O filme tem cenas totalmente gore e splatter, marca registrada do Fulci, e uma trama muito bem amarrada, coesa e acima de tudo, interessante, com os quatro, que inicialmente se odeiam, gradualmente se aproximando uns dos outros. O personagem do negro, Bud, feito por Baird, tem uma voz bonita e sensível, e sua loucura é mostrada de forma crua mas ao mesmo tempo cheia de magia e mistério, e a prostituta interpretada pela Lynne Frederick é linda!

Frederick tem uma história triste: era uma atriz inglesa que fez muitos filmes de horror nos anos setenta como "Shock", "Vampire Circus" e "Phase IV", além de filmes interessantes como "No blade of grass", sobre um vírus mutante que destrói a terra, no qual ela faz parte de uma família que se refugia na Escócia, "Nicolas e Alexandra", sobre a vida do último czar da Rússia (Lynne faz o papel de uma das filhas do czar, e é assassinada com a família, como ocorreu na vida real) e "The Amazing Mr. Blunden", um filme que entra no filão "Incrível fábrica de chocolate" feito na Inglaterra em 1972.

Aos vinte e dois anos, dois anos depois de fazer "Os quatro do apocalipse" ela conheceu o Peter Sellers, que já tinha mais de cinqüenta anos. Casou-se com ele, mas três anos depois Sellers morria de um ataque do coração. Frederick herdou a maioria do dinheiro do ator inglês, deu apenas pouco mais de dois mil dólares para cada um dos filhos dele (!!!), e ainda processou a Universal Pictures devido a coletânea de cenas não utilizadas dos filmes da Pantera cor de rosa "A trilha da pantera cor de rosa (1982)", disponível no Brasil em DVD, que considerou mal uso da imagem de seu ex marido, ganhando mais um milhão de dólares.

Morreu em 1994, aos 39 anos, devido a problemas com alcoolismo.

Dinheiro não é tudo.

Após essa breve digressão, de volta ao filme:

A Lynne está lindíssima, e o filme foi fotografado com algum filtro difusor muito utilizado nos anos 70, que deixa os reflexos e luzes naturais mais brilhantes e esfumaçados, fazendo as imagens remeterem aos trabalhos do
fotógrafo inglês David Hamilton. Isso ajuda a criar o clima onírico e poético que permeia várias cenas. Há uma seqüência numa cidade semi-abandonada, com ex mineradores imundos, que vivem na neve, que é muito
bonita, na qual homens durões e brutais, bêbados, violentos e sujos, deixam seus corações gradualmente amolecerem e mostram o lado hospitaleiro e altruísta, do ser humano, recuperando a humanidade, que haviam perdido com o fim do minério em sua cidade.


Paralelamente o filme tem cenas de brutalidade e violência poucas vezes vistas no gênero. Claro, se trata de um spaghetti western dos anos setenta, gênero que flerta muito com a violência, mas este tem cenas de tortura e canibalismo que vão mais longe do que o padrão.

O final é amargo e pesado, com uma excelente colocação (indireta, vocês que concluam) sobre a inutilidade da violência e da dor da perda. Bonito mesmo. A última tomada, com por do sol e todo o cenário típico de Western é muito bonita, e cheia de uma melancolia silenciosa.

Vejam que é bom. O melhor filme do Fulci que assisti, mostra um lado sensível deste macabro cineasta que eu desconhecia.

A edição brasileira é tirada do recente relançamento deste filme pela distribuidora americana Anchor Bay, e incluí cenas excluídas pela censura norte americana anteriormente.

2 comentários:

Marxperience disse...

Comprei essa obra prima por míseros 10 reais nas Americanas.

Joca, você já viu "O Silêncio da Morte", "The Great Silence" em inglês, se não me engano, com o Klaus Kinski?

Anônimo disse...

Oi Joaquim!
Ainda não li o texto, mas vou ler, você sabe que meu ingles não é mto bom! hehehe
Vou passar mais por aqui.

Beijo!